Monday, September 18, 2006

Sugestão

não de escuta mas de leitura. O texto é de Rodrigo Saraiva, fica um excerto e a ligação para o resto.

CONSIDERAÇÕES EM TORNO DO BACH DE HELMUT WALCHA

Ao mesmo tempo que escrevo isto, ouço as Partitas do Walcha. Não há qualquer comparação com as versões recentes. Há uma tensão, uma intensidade, uma concentração, que não se encontram em nenhuma das versões mais modernas.

Isto significa que vivemos tempos estupidamente fáceis, em que nos embalamos na tranquilidade de saber que «tudo vai correr bem». Os pequenos dramas da nossa vida não são verdadeiramente graves. Quando o Walcha gravou as Partitas, como no sec. XIV ou nos sécs. XVI e XVII, as questões eram todas de vida ou de morte. A MORTE estava presente em todos os momentos. Ou porque uma guerra estúpida e sem sentido tinha causado a morte de milhões de pessoas e a destruição de grande parte da Alemanha; ou, em épocas anteriores, porque a doença e a morte que se lhe seguia estavam sempre presentes, as pessoas tinham uma sensação de, ao mesmo tempo, seriedade e desespero. Agora, nos tempos modernos, do post-guerra fria, sentimo-nos todos confortáveis e sem quaisquer problemas. Tudo é simples. Basta tentar com força que se consegue. E, se não se conseguir, alguma coisa há-de surgir. Os valores tornaram-se
completamente hedónicos e deixou de se ter o pudor da facilidade e do prazer. Trata-se de uma modificação enorme nas nossas vidas.
(texto integral)