Saturday, January 19, 2008

Woody Allen, Philip Glass e nós humanos


Apesar da crítica arrasar com o ultimo filme de Woody Allen, este homem já no fim da vida voltou a surpreender-me no minimalismo repetitivo da sua obra. Costumo dizer que os filmes de Woody Allen são como os concertos de Vivaldi: todos iguais, mas muito bons.

Será por isso que Woody optou pela música repetitiva de Philip Glass? Ou o minimalismo deste compositor serve para acentuar a monotonia desta vida que levamos, num mundo sempre igual, em dias sem novidade, à espera do fim mais democrático que possa existir: a morte inevitável já conhecida?

Tanto em Melinda and Melinda como no mais recente Casandra’s Dream, Allen põe em confronto duas perspectivas de vida: será a vida uma tragédia ou uma comédia?

Em Melinda and Melinda, dois realizadores de cinema colocam esta questão e dividem-se. Para exporem a sua tese, contam a história de Melinda, cena após cena. O primeiro interpreta a história num sentido trágico, o segundo vê comédia em cada cena. Contudo, as duas visões terminam da mesma maneira…

Em Casandra’s Dream, Allen aprofunda esta temática. Trata-se da história de dois irmãos, de família humilde, apesar de terem um tio multimilionário. As vidas de ambos são trágicas, mesmo desesperantes, mas nunca perdem o seu lado cómico.

O lado cómico entrelaça-se com a tragédia da vida. A vida acaba por ser um drama, o drama do homem em busca da sua salvação. Essa busca está patente nos dois irmãos que querem enriquecer a todo o custo. É este o paradigma actual de Salvação, assente em valores materiais: dinheiro; fama; sexo; sucesso. Por isso, a música minimalista assenta bem no filme, pois é uma música que não procura mais que a superficialidade de cada melodia em formas mais que simples.

É interessante ver que sem Deus, acabamos por ficar no “agora”: «só o agora interessa”. É esta máxima que leva os irmãos ao crime. Até porque, como dizia Dostoievski, sem Deus tudo é legítimo.

No entanto, Casandra’s Dream deixa-nos a dúvida de Match Point: será que a nossa natureza pede-nos para viver segundo uma ordem; será possível não ter escrúpulos dos crimes que cometemos, mesmo depois de eliminar Deus? Estará Deus inscrito na nossa natureza?

Trailer
Será a vida só isto?