Paixões

Não conheço nenhuma outra arte ou actividade humana que seja capaz, como a música é, de gerar no Homem uma sensação de real proximidade com o Absoluto, considere o ouvinte que o Absoluto seja o Deus Cristão ou qualquer outra entidade sobrenatural. Tendo isto em consideração, as paixões ocupam no campo musical um lugar de especial relevância, onde a palavra desempenha talvez o papel mais importante.

É necesssário recordar, quando partimos para audição de uma obra deste género, que a palavra de Cristo é, para quem acredita, a palavra do próprio Deus.

Pare, respire e pense nisto por um segundo. Se tivesse vivido dois mil anos atrás poderia ter visto olhos nos olhos o próprio Criador, o Criador! Aquele que é, por definição, a Perfeição, Aquele cujo Poder está para lá do nosso entendimento, esteve ao alcançe do olhar, do toque. Imagine como se sentiria caso estivesse na presença do próprio Deus vivo, à sua frente. Olhos nos olhos. Tente imaginar isso. Consegue? Muito provavelmente, não.
Mas também não fique muito chateado. Pense nisso e oiça a Paixão de São Mateus de Bach, ou a de São João de Arvo Part, e talvez consiga esboçar uma pequena aproximação.

No final tenha cuidado, não vá acabar convertido...

No fonógrafo digital uma amostra da Paixão de São João, Arvo Part.

Passio Domini Nostri Jesu Christi Secundum Joannem
The Hilliard Ensemble
dir. Paul Hillier