Monday, October 29, 2007

Alterações no regime de sentido

são quase sempre precedidas de dor e angústia. Mas o fim, em princípio, compensa. Há uma semana mudei o meu. Passei de Glenn Gould para Leonhardt. Convencido que estava, ser do pianista inglês a melhor interpretação de sempre das variações goldberg, decobri que, afinal, é à 2ª gravação de Leonhardt que se deve atribuir este título. No princípio a angústia da ruptuta, do colapso com Gould, no fim, a elevação com Leonhardt.

Thursday, October 11, 2007

Arrogâncias Mozartianas

Desafio a humanidade inteira a encontrar, no repertório de Chopin, algo que toque nos calcanhares desta pequena peça de Mozart.
(ver fonógrafo digital)


Andante For Flute And Orchestra In C Major, K.315: Andante

Rampal, flute
Israel Philarmonic Orchestra
Mehta

Tuesday, October 09, 2007

Pensar a Filosofia e a Arte com Foresi

«Partamos do que se observa na vida da humanidade nestes últimos decénios. (…) Com estas revoluções e inovações, verificou-se uma profunda crise, não só a nível social, mas também no pensamento. É uma crise que poderemos chamar de cepticismo: já não se acredita na possibilidade de pensar para afirmar verdades racionais; isto é, desconfia-se do valor, não só da filosofia, mas da própria razão.

(…)

Também a arte, que é uma das mais elevadas intuições do ser, está a passar por uma crise (…) Uma arte desligada da realidade envolvente, das pessoas, fechadas em si (…) O povo, a gente simples, não consegue compreender estas manifestações artísticas de hoje. E isto é grave, (…) porque nos periodos mais felizes da vida do pensamento e da vida da arte havia participação da humanidade de então, do povo (…) Até à geração que precedeu a minha, por exemplo, existiam em Toscana lavradores que sabiam, e compreendiam, de cor a Divina Comédia, como cantarolavam árias das melhoras óperas de Mozart. Algo de semelhante acontecia nas tragédias gregas, nos debates filosóficos feitos nas praças (…) Estas expressões eram seguidas pelo povo porque havia uma ligação profunda entra a cultura, o pensamento, a arte e a existência concreta das pessoas (…)

A arte de hoje exprime exactamente o estado de ânimo que experimentamos em nós ao viver no meio de todos os outros; isto é, queremos ser um pouco disto e um pouco daquilo, ter tudo em nós e ser um pouco de tudo. Por isso esbatemos no vazio. A arte actual consegue exprimir, de certo modo, o que nós somos, homens de hoje, embora de modo desarmonioso, é verdade, mas porque é o próprio homem que está desarmonioso dentro de si e nas suas relações»

Apesar de não concordar com tudo o que este autor contemporâneo diz, penso que o seu livro ajuda a uma profunda reflexão sobre o estado actual da filosofia e da arte. Vale a pena ler o livro todo. Por isso deixo a referência.

Falando de Filosofia, de Pasquale Foresi, edições Cidade Nova.

Monday, October 08, 2007

Livro «Dez compositores portugueses»

Penso que é um livro útil, no sentido de aprofundar e valorizar a cultura musical portuguesa. Um livro a não perder. Deixo um excerto da notícia da agência lusa.

«O livro "Dez compositores portugueses" é "uma síntese geral da música portuguesa do século XX", explicou à Lusa o seu coordenador Manuel Pedro Ferreira.

"É uma síntese, tanto mais que é a primeira vez que a música portuguesa escrita no século XX é tratada de forma sistemática, abrangente e organizada", sublinhou.

Escolheram-se dez compositores sobre os quais há uma ficha biográfica e é feita uma análise de uma obra sua.

Os compositores escolhidos foram: Luís de Freitas Branco, Frederico de Freitas, Cláudio Carneyro, Jorge Croner de Vasconcelos, Fernando Lopes-Graça, Joly Braga Santos, Jorge Peixinho, Emanuel Nunes, Constância Capdeville e Clotilde Rosa.

Os compositores, explicou o autor, foram escolhidos tendo em conta algumas especificidades e os períodos essenciais da escrita musical portuguesa: até 1910 (o tardo-romantismo), de 1910 a 1930 (raízes do modernismo), a época republicana de 1930 a 1960 (reinvenção do nacionalismo e que coincide com o apogeu do tonalismo) de 1960 a 1980 (a adesão ao atonalismo), "a década de 1980 que corresponde à crise do paradigma vanguardista, e a última década o século XX que diz respeito às faces da pós-modernidade"».

© 2007 LUSA - Agência de Notícias de Portugal, S.A.
Para ler a notícia completa:
http://www.rtp.pt/index.php?article=300449&visual=16&rss=0

2007-10-01 16:35:01

Sunday, October 07, 2007

Sinfonia À Pátria

Nós, portugueses, devíamos procurar divulgar um pouco mais a nossa cultura. Entristece-me o facto de ver a pouca quantidade, e não melhor qualidade, de gravações de música erudita portuguesa.

Recentemente, tive a oportunidade de escutar, com a devida atenção, a Sinfonia À Pátria op. 13 de Vianna da Mota, composta em 1895 e editada em 1908 no Brasil.

Esta é considerada a obra mais importante deste compositor. Vianna da Mota foi, sem dúvida, um dos maiores pianistas do seu tempo, bastante respeitado por Listz, seu professor.

Creio que, se este compositor fosse alemão, seria bem conhecido e aclamado por esse mundo fora. Da mesma forma, creio que se Beethoven fosse português talvez só encontrássemos algumas das suas obras nas edições da Strauss.

É possível que esteja a exagerar. O que quero exprimir é a minha frustração em ver a nossa cultura tão pouco divulgada, mesmo entre nós portugueses.

Penso que, depois de conhecermos os nossos compositores, profundamente ligados à nossa poesia, ficaremos certamente apaixonados por esse Portugal tão desconhecido e ignorado. Aí, passaremos a respeitar profundamente a sua cultura, a sua história e até a sua espiritualidade tão própria, pondo de lado os preconceitos ideológicos.

Depois de descobrirmos o que há de tão original na nossa cultura – que se reflecte na literatura, na poesia, na arte, como um brotar de uma identidade bastante rica e exclusiva – passamos a acreditar que este país tem muito para oferecer ao mundo, principalmente ao mundo globalizado.

Esta ideia não é minha, pois está explicitada por vários poetas lusitanos. O Pe. António Vieira, por exemplo, exprimiu-a no conceito de Quinto Império. Trata-se de um império não colonizador, respeitador das diversidades culturas. Um império de valores, de cultura, de humanismo, de civilização. Um império que não vive fechado em si mesmo, mas que se quer abrir ao resto do mundo, doando-se a ele através do mar sem horizontes definidos.

É o brotar de uma nova espiritualidade, de uma nova utopia, onde Deus e o Homem se abraçam e, lado a lado, constroem um mundo sem limites. Penso que, com esta Sinfonia, Vianna da Mota embalou neste sonho profundo.

Cada um dos quatro andamentos é a expressão musical de versos de Camões.
O primeiro andamento é bastante vivo, enérgico até, sonoramente rico pela variedade instrumental. Tudo isto nos mostra a força da nossa cultura, que não se fecha em si mesma. É esta cultura, expressa no primeiro andamento, que se abre no mar calmo e sereno, quase místico, do Adagio molto. Seguindo a mansidão melódica, reforçada pela docilidade dos sopros, chegamos ao terceiro andamento. Aqui, Vianna da Mota, influenciado pelo nacionalismo russo, aproveita duas canções populares portuguesas, uma de Viseu e outra da Figueira da Foz.

No último andamento, aplica-se à Pátria o dinamismo pascal de morte e Ressurreição. A luta contra a decadência dessa cultura tão rica, irá desplotar num ressurgimento, numa Ressurreição da Pátria. Sobre a sonoridade escura dos fagotes, seguem-se os violinos a reforçar a queda da pátria. É então que aparece o solo do clarinete-baixo, a deformar o tema inicial da sinfonia. Dando a sensação de tentar tocá-lo correctamente, numa luta contra o resto da orquestra. A luta vai-se desenvolvendo com outros instrumentos, como a flauta, que se aproximam cada vez mais do tema original, o motor de toda a sinfonia.

Por fim, o tema reaparece, com uma vitalidade redobrada, num andamento Maestoso, vivo e expansivo. Volta-se, portanto, à origem da sinfonia.

Este andamento, onde Vianna da Mota escreveu «Decadência-Luta-Ressurgimento», desplotou em mim o desejo de ver musicado um grande poema de Pessoa:


Deus quer, o homem sonha, a obra nasce,
Deus quis que a terra fosse toda uma,
Que o mar unisse, já não separasse.
Sagrou-te, e foste desvendando a espuma,

E a orla branca foi de ilha em continente,
Clareou, correndo, até ao fim do mundo,
E viu-se a terra inteira, de repente,
Surgir, redonda, do azul profundo.

Quem te sagrou criou-te português.
Do mar e nós em ti nos deu sinal.
Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez.
Senhor, falta cumprir-se Portugal!

Saturday, October 06, 2007

Em Novembro, no Porto