Wednesday, February 28, 2007

Hermann Hesse

"Sobre este dia, sobre este trecho das coloridas páginas da minha vida quero escrever uma palavra como "mundo" ou "sol", repleta de magia, bem soante, plena, cheia de tudo, mais rica que tudo, uma palavra com a importância da perfeita satisfação, do perfeito conhecimento.
Ocorre-me então uma, a palavra mágica para este dia, vou escrevê-la em letras maiúsculas nesta página:MOZART. Isto quer dizer: o mundo tem significado, que se torna palpável na metáfora da música."

(Entrada no diário, Novembro de 1920)
No fonógrafo digital: o significado do mundo, em duas partes.

Tuesday, February 27, 2007

Proposta do Dia

Um dos momentos em que Schubert se transforma num dos maiores compositores de todos os tempos.

Sonata D.960: Andante Sostenuto

Piano - Alfred Brendel

Friday, February 23, 2007

Do Sofrimento

e do seu fundamento. Num tempo incapaz de compreender o Deus cristão, que lhe é mesmo adverso, que o expulsa lentamente da vida colectiva, a audição das cantatas de J.S. Bach torna-se num verdadeiro acto esquizofrénico, a sua proposta uma espécie de conversa de surdos.
Isto será ainda mais verdade caso o texto desta afirme a salvação do Homem através da cruz. Contudo, ainda assim, aqui fica a sugestão da cantata “Ich Wil den dreuzstab gerne tragen”BWV56.


A interpretação está a cargo de Karl Richter e Dieskau. Uma leitura moderna que aprecio muito.


Cantata: Ich Wil den kreuzstab gerne tragen
Choral: Komm, o Tod, du Schlafes Bruder
Dietrich Fischer-Dieskau
Münchner Bach-Orchester
Karl Richter

Wednesday, February 21, 2007

Aquecimento

No próximo dia 17 de Março farei a minha estreia Mahleriana. Serão 318 km até ao Porto para assistir à interpretação da 6ª sinfonia de Gustav Mahler sob a direcção de Michael Zilm. O aquecimento deu-se esta quinta passada na Gulbenkian, quando o mesmo maestro dirigiu "Das Klagende Lied". Ficaram muito boas impressões. Confesso, estou a contar os dias...

Thursday, February 15, 2007

E você, já tem a sua?



Também eu sou um dos felizardos que já adquiriu a sua integral de Mahler, dirigida por Solti, por uns meros 40 Euros. E você, do que está à espera?



Vale mesmo a pena, do zapping apressado dos CD's fica para já uma primeira impressão EXCELENTE!! Reparem só no ínicio da 7ª!!
Na Amazon inglesa, para quem quiser...

Sinfonia nº7
I. Langsam - Allegro

Chicago Symphony Orchestra - Sir Georg Solti

Tuesday, February 13, 2007

Proposta do Dia


O primeiro andamento da 6ª sinfonia de Gustav Mahler. Terreno onde duas forças travam batalha, onde dois temas se apresentam, ressurgem, sobrepõe-se.
Na amostra do fonógrafo ouve-se o primeiro, uma marcha, a morte que vem a caminho...
(pintura: "São Francisco e Irmão Leo Meditam sobre a morte" ASTOR, Diego de. 1606)



Sinfonia nº6
I.Allegro energico - ma non troppo

Wiener Philarmoniker - Boulez

Sunday, February 11, 2007

Viajar

Implica, por definição, o regresso ao ponto de partida. Em música encontramos algo parecido quando o compositor acaba a sua peça com o tema inicial (habitualmente basta isto para que este ganha imediatamente a minha simpatia. Sim, sou um tipo fácil...). Assim que as primeiras notas do tema inicial ressurgem, o incompreendido torna-se devaneio de viagem, o absurdo transforma-se em peripécia, em saboroso imprevisto, numa espécie de novidade que se comunica, afinal, a um espírito pré-disposto a recebê-la. Quando o tema inicial reaparece, tudo volta a fazer sentido, como se retornássemos a casa. Saio da sala de concertos com um sorriso, satisfeito por ter também eu andado um pouco à deriva, com a sensação de ter sido “estrangeiro” por alguns momentos, como diria um caro amigo...

Thursday, February 08, 2007

Trio para 2 sopranos cor-de-rosa e barítono à Alexi Lalas

Wednesday, February 07, 2007

Haydn - o primerio romântico, trio com piano nº 44 Hob.XV:28

Este post é um tratado de Marketing, ao jeito dos melhores papers de economia. Anuncia algo grande, original, renovador, mas depois não confirma nem desmente, foge ou não sabe responder ao assunto que se propôs tratar. Não faço ideia se foi Haydn, Mozart, Beethoven ou Schoenberg o primeiro romântico. Mas que neste trio o Haydn pisca o olho ao Schubert... Ah, isso pisca sim senhor!!

Friday, February 02, 2007

Bach - Música matemática, fria. (Post 2)



Chaconne - Partita em ré menor, BWV1004
Mullova - Violino

Thursday, February 01, 2007

Outras Músicas: Um Post Cívico

O Fonógrafo é um blog sobre música. Desde o primeiro post não fugi a este tema, mesmo que a tentação tenha sido por vezes muito alta... Quanto à questão do aborto julgo no entanto ser legítimo abrir a exepção, sinto-me mesmo moralmente compelido a fazê-lo. Não tentarei expôr por completo os meus argumentos sobre esta matéria, não tenho também a presunção de alegar que direi algo novo, nem é meu intuito convencer ninguém. Porém, neste referendo somos convidados a participar em algo absolutamente decisivo, para o qual devemos todos contribuir activamente. Esta será a minha maneira de o fazer. Para que se saiba à partida: voto não.
Quando discutimos a liberalização do aborto dois valores fundamentais entram em conflito: o da auto-determinação da mulher sobre o seu corpo e o do direito à vida de cada Homem. Todo o argumentário à volta de outras questões é inútil ou, na pior das hipóteses, desonesto.
Porém, antes de o consideramos, permitam-me ainda argumentar que estamos quase todos de acordo sobre o essencial: o primado do direito à vida sobre o do direito do homem ou da mulher sobre o seu corpo. A discussão apenas faz sentido caso as partes dialogantes acordem quanto a isto. Numa hierarquia de valores onde o direito da liberdade de escolha está acima do respeito pela vida do outro não existem quaisquer dúvidas: o aborto é um atentado à mulher e deverá ser liberalizado sem qualquer tipo de constrangimentos ou restricções. É assustador mas, é esta a posição coerente.
Uma vez aceite o primado do direito à vida, podemos então passar à discussão que nos é proposta pelo referendo do dia 11 de Fevereiro, levantando a dúvida que naturalmente se impõe: existe, de facto, um conflito entre estes valores? Existe, afinal, vida no ser que se desenvolve no ventre da mulher? Sejamos claros quanto a isto: existe. E não sou eu que o afirmo, caso fosse, concederia todo o espaço para que a afirmação fosse colocada em causa... Mesmo entre os partidários da liberalização já não é possível questionar um facto que é hoje evidente. Assim sendo, a única abordagem possível que permite ainda legitimar a interrupção da gravidez, consiste em defender que se tratando de vida humana, a vida intra-uterina não constitui ainda uma pessoa plena. É neste contexto, e apenas neste contexo, que surge a discussão à volta da determinação das 10 semanas.
Pode parecer absurdo mas, é de facto isto o que acontece. Discutem-se os critérios que determinam o que torna um ser humano numa pessoa plena de direitos. É aqui que se faz o primeiro ataque a um caminho que há muito tem sido percorrido pela Humanidade: o esforço do reconhecimento do carácter absoluto do direito à vida, independente da vontade e definição de outros, independente da determinação das maiorias. É este o fundamento basilar do convívio entre Homens, constituinte primeiro da sua própria condição.
Do debate sobre a determinação do número de semanas não surge qualquer conclusão (veja-se, a título de exemplo, a disparidade no estabelecimento deste prazo entre os diversos países europeus), as propostas são as mais variadas, cai-se no campo da total arbitrariedade. Reflexo disso mesmo é o reconhecimento, por parte dos defensores do sim, do absurdo em que consiste a definição concreta desse prazo. Desta forma, para que possam continuar a defesa da liberalização do aborto, torna-se necessário prescindir deste debate, fugindo da questão essencial que o encerra. Uma vez que não é possível a determinação objectiva do início da vida, argumenta-se apenas sobre a necessidade maior da determinação de um número de semanas que permita à mulher abortar, "decidir em consciência", independentemente da existência ou não de vida no ventre materno. Infelizmente morrem aqui as hipóteses de uma discussão séria sobre esta questão. O que quem defende essa necessidade não consegue, ou não quer conceber, é que a vida não é um conceito livremente estabelecido pelo Homem, que não se torna moralmente legítimo matar alguém pela necessidade do estabelecimento deste consenso. Se a vida existe, em absoluto, às 9, 8, 7, 5 semanas, não é uma lei que define um prazo de 10 que lhe confere qualquer tipo de legitimidade moral.

Por outro lado, existe ainda um pequeno reduto entre os defensores do sim que se atreve a discutir a questão do início da vida. Será curioso notar uma marcante contradição no seu discurso. Entre estes, as 10 semanas são habitualmente apresentadas como um prazo “recuado”, “moderado”. No entanto, admitindo que assim é, se a vida começa algures depois das 10 semanas, é necessário reconhecer que levar a tribunal uma mulher que aborta às 11 constitui uma injustiça tão profunda quanto a que existe com a lei actual. Contudo, mais grave, é a incapacidade para compreender a arbitrariedade da afirmação “recuado”, a incapacidade para perceber que a determinação da vida de cada Homem não pode depender do estabelecimento de critérios subjectivos, mesmo que sejam aprovados por maioria, mesmo que seja esse o consenso social à volta desta questão.
É inquestionável que para a maioria das mulheres o aborto é um drama profundo, que o sofrimento de muitas dessas mulheres levanta os mais sinceros sentimentos de solidariedade. A pergunta do próximo dia 11 interpela-nos, porém, para a despenalização de um comportamento que resulta na morte de um ser humano, único, irrepetível. Aqui a minha resposta não pode ser outra: voto não.