Thursday, March 30, 2006

O pior que há

Algum público dos concertos, que os transformam num evento social de passagem de casacos, penteados, jóias e futilidades.

Graças a Deus ainda existem alguns resistentes! A prova maior disso foi o concerto de Gustav Leonhardt o ano passado, onde as pessoas tiveram que esperar vários minutos em pé, ao frio, para poderem assistir o cravista/organista holandês. Apenas quem realmente gosta de música lá esteve, a malta do evento social não tem espaço para exibir os seu aparato e não aparece, ainda bem!

Ontem à noite aproveitei a falta de paciência para trabalhar e fui a mais um concerto, desta vez no São Luiz. Entrei sozinho e sentei-me ao lado de uma senhora dos seus 70 anos. Vestida de forma simples também ela estava sozinha, pedi-lhe para ver o programa que prontamente disponibilizou com um sorriso. Eram 9 da noite mas ainda assim ela tinha trocado o conforto do lar pelo simples prazer de assistir a um concerto. Quando for grande também quero ser assim!

Wednesday, March 29, 2006

Amanhã e Sexta na Gulbenkian

Johannes Brahms

Duplo Concerto, para Violino e Violoncelo, em Lá menor, op.102

Um concerto cheio de força, fica aqui um "cheirinho".

Monday, March 27, 2006

O melhor que há

Um final de tarde com Sol. Chegar adiantado ao destino, ter tempo para um breve passeio no jardim, com cantos de pássaros e cheiro a verde.
Uma sala acolhedora, bem composta. Luzes que se apagam e um sorriso que obriga a outro. O Quinteto com clarinete de Mozart.

Hoje na Gulbenkian

Wolfgang Amadeus Mozart
Divertimento para Cordas, em Ré Maior, K.136
Quinteto para Clarinete e Cordas, em Lá Maior, K.581J

Johannes Brahms
Sexteto para Cordas Nº 1, em Si bemol Maior, op.18
Pelos solistas da Orquestra Gulbenkian, no Auditório 2 às 19h

Wednesday, March 22, 2006

Fonógrafo Digital - Hermann Hesse e a Flauta Mágica


"As óperas de Mozart são para mim a síntese de todo o teatro. São como nós imaginamos o teatro em pequenos, antes sequer de o termos visto: como o céu, repleto de doces sons, ornamentado de dourado e de todas as cores
...
Perdi a conta às vezes que já vi A Flauta Mágica e As Bodas de Fígaro."

(de uma carta de 10.1.1929 a Emmy Ball-Hennings)
No fonógrafo digital, enquanto as citações de Hermann Hesse estiverem presentes, irão passar, de forma mais ou menos regular, trechos da flauta mágica. Começamos com a abertura.
P.S. Alguém sabe se esta ópera vai a palco em Portugal este ano? Como é possível comemorar o nascimento de Mozart sem a Flauta Mágica?

Hermann Hesse (1)



Há dois tipos de música. Uma delas é clássica, a outra romântica. Uma delas é arquitectónica, a outra pictórica. Uma socorre-se do contraponto, a outra dá primazia ao colorido. Dos que pouco percebem de música, a maioria apreciará mais facilmente a música romântica. A música clássica não tem para oferecer a embriaguez da romântica, mas por outro lado também nunca acaba por criar a repugnância, o peso na consciência e a ressaca que a última pode provocar.

(de "Notizen", 1912)

Tuesday, March 21, 2006

Hermann Hesse - Música

Hermann Hesse era um melómano (eu também) . Hermann Hesse adorava Mozart, sobtretudo a Flauta Mágica (eu também). Hermann Hesse tinha jeito com as palavras (eu não...)
Por isso mesmo irão passar pelo fonógrafo alguns textos (ou excertos) do autor sobre música, que foram compilados num livro com o mesmo nome. Espero que gostem!

Wednesday, March 15, 2006

Resposta ao comentário do post 'Ainda Mozart'

Muito obrigado pelo comentário. É sempre bom debater ideias e ver que afinal o que escrevemos é lido por algumas pessoas. No entanto, tenho de dizer que discordo frontalmente da maioria das ideias apresentadas.
Nem por um momento foi minha intenção insinuar que Mozart é o maior compositor de todos os tempos, ou que conhecendo a sua música deveríamos/poderíamos ignorar todo o resto. Mas, também não posso concordar com a ideia de que a maior liberdade criativa e o aprofundar dos conhecimentos musicais aproximem esta arte de uma espécie de "ideal musical"', tornando desta forma Wagner ou Stravinsky superiores ao compositor de Salzburgo (Julgo mesmo que a liberdade em excesso conjugada com uma obsessão pela teoria musical, enquanto mera manipulação intelectual, desgarrada de toda a sensibilidade, tem contribuído em muito para o afastamento gradual dos ouvintes da chamada música erudita).

Note ainda que caso fossem estes os critérios utilizados para tentar “hierarquizar” os compositores, Bach e Buxtehude não estariam muito bem na listagem… Pois se Bach foi menos livre do que Stravinsky (lá era obrigado a compor as suas cantatas ao Domingo) e se necessariamente Stravinsky teve acesso a um corpo teórico musical mais desenvolvido, teríamos necessariamente de concluir que o compositor russo supera o alemão. Concorda?

Por fim, gostaria ainda de deixar duas propostas de escuta (fonógrafo digital) que penso contrariarem um pouco a ideia de que Mozart era incapaz de quebrar com os cânones da época. Caso estes dois exemplos não bastem podemos encontrar outros. Aliás, não terá sido Mozart o primeiro romântico?

Monday, March 13, 2006

Duas interpretações do cravo bem temperado


Passado mês e meio, finalmente chegou da Amazon o cravo bem temperado por Helmut Walcha. Walcha é muito provavelmente o meu organista preferido, confesso contudo que a sua performance ao cravo não conheço tão bem… Mas, como esperado, cá está ela, sem floreados, sem ornamentações, sem espaço para respiração, directa ao assunto.

No extremo oposto está a de Ton Koopman. Para que façam o vosso próprio juízo, disponibilizo as duas interpretações do prelúdio nº8, o meu preferido.



P.S. Como isto das diferenças nas interpretações percebe-se melhor com a partitura escrita, aqui fica o link.

Friday, March 10, 2006

Karajan Mozartiano?!


Das várias colecções de Mozart que vão saindo com os jornais tenho comprado alguns CD’s de forma mais ou menos avulsa.
Até o momento a surpresa mais agradável é a gravação da Sinfonia nº 38 “Praga” interpretada pela Philarmonia Orchestra sob a direcção de Herbert von Karajan (coleccção DN volume 8).
O registo de Karajan, sobretudo os últimos, caracteriza-se por uma interpretação demasiado romântica de quase todo o repertório, mesmo o de Mozart (o que na minha muito modesta opinião nem sempre resulta muito bem). Porém nesta gravação dos anos 50 não é isso o que encontramos, bem pelo contrário. Mozart aparece cheio de vida, sem andamentos forçadamente lentos, sem artifícios ou uma imposição das cordas sobre os demais instrumentos. Muito bom!

Sunday, March 05, 2006

Ainda Mozart

Com a comemoração dos 250 anos do seu nascimento, Mozart parece ter invadido de forma definitiva o meu leitor de CD’s.

No entanto, ao ouvir personalidades ligadas ao mundo da música (ou não) referirem ser necessária uma certa maturidade para que se possa desfrutar verdadeiramente de Mozart, não posso deixar de questionar a veracidade desta afirmação.

Muito sinceramenente não me considero tão “maduro” quanto isso, mas penso pertencer agora ao grupo dos amantes das melodias do compositor... Porém, se assim é, qual será então a razão que me leva hoje a ouvir a sua música, quando até há bem pouco atrás não o fazia?

Alfred Brendel ao recordar no seu documentário o Homem e a Máscara uma já celebre frase de Schnabel sobre as sonatas para piano do compositor (“ muito fáceis para as crianças e demasiado difíceis para os virtuosos”) lança mais uma ideia que acaba porém por não ser de grande utilidade na minha procura por uma explicação... com o passar dos anos não é esperado tornarmo-nos mais infantis...

Felizmente a resposta não tardou tanto quanto isso. Tal como para todas as outras formas de arte, também para apreciar Mozart é necessária uma certa pré-disposição, uma vontade inicial que tem de partir necessariamente do próprio ouvinte. Mas, neste caso, penso que é necessário um pouco mais do que isso, é preciso um esforço adicional de despojo de alguns complexos contra a estética do período.
Por alguma razão que desconheço parece existir uma certa arrogância intelectual relacionada com uma presunção de superioridade do ideal romântico, sobretudo junto do auditório mais jovem (neste caso não as criancinhas), que menospreza e rotula de previsível ou de desprovida de sentimento a sua música ... nada mais falso!
É preciso aprender a saber não ter medo de sorrir junto com Mozart (não, isso não nos torna menores!), é preciso saber deixar entrar os raios de luz que emanam das melodias para sopranos para quem tão magnificamente compôs (), apreciar a beleza dos jogos entre os instrumentos () ou a sensação de total plenitude atingida mesmo com conjuntos instrumentais reduzidos (). Em Mozart tudo se harmoniza, tudo parece inspiração, realização. É verdade que não existe a auto-comiseração (por vezes lamechas?) do romantismo mas, não é isso que torna o piano de Chopin, Schumann, Schubert ou mesmo Liszt mais íntimo, mais humano.