Música erudita é subjectividade! Post II – O fracasso da música matemática.
Assumindo o que no post I foi dito, torna-se fácil perceber a razão do fracasso de alguma composição moderna que exclui do seu âmbito o principal componente de qualquer composição, o coração, elevando a razão, e em particular o pensamento matemático, a elemento central do discurso.
Contudo, não se pense que quero com isto dizer que a música se deve resumir a uma colecção mais ou menos desordenada de sentimentos, muito pelo contrário. Consideremos, a título de exemplo, Gustav Mahler. De facto, se é verdade que a sua música é frequentemente feita da luta de sentimentos contraditórios, é também evidente que a razão está presente, e de que forma! (pela complexidade, pela refinada orquestração ou pela estrutura empregue). O ponto essencial é que a razão não se assume como actor principal, mas surge antes como elemento de ordenação, que dá sentido ao sentimento. É esta a diferença fundamental entre estes dois tipos de abordagem. A razão surge em Mahler como elemento que torna o discurso inteligível, que através da linguagem musical insere o sentido do discurso na existência do ouvinte.
Se assim é, música é subjectividade. Sem esta, aquela pode sequer existir, sem um receptor nada é possível. Ao ignorar a sensibilidade do ouvinte, esta música matemática (chamemos-lhe assim) comete uma espécie de suicídio. Ironicamente, torna mais interessante a leitura do ensaio do que a audição da partitura que o musica.