Com a comemoração dos 250 anos do seu nascimento, Mozart parece ter invadido de forma definitiva o meu leitor de CD’s.
No entanto, ao ouvir personalidades ligadas ao mundo da música (ou não) referirem ser necessária uma certa maturidade para que se possa desfrutar verdadeiramente de Mozart, não posso deixar de questionar a veracidade desta afirmação.
Muito sinceramenente não me considero tão “maduro” quanto isso, mas penso pertencer agora ao grupo dos amantes das melodias do compositor... Porém, se assim é, qual será então a razão que me leva hoje a ouvir a sua música, quando até há bem pouco atrás não o fazia?
Alfred Brendel ao recordar no seu documentário o
Homem e a Máscara uma já celebre frase de Schnabel sobre as sonatas para piano do compositor (“ muito fáceis para as crianças e demasiado difíceis para os virtuosos”) lança mais uma ideia que acaba porém por não ser de grande utilidade na minha procura por uma explicação... com o passar dos anos não é esperado tornarmo-nos mais infantis...
Felizmente a resposta não tardou tanto quanto isso. Tal como para todas as outras formas de arte, também para apreciar Mozart é necessária uma certa pré-disposição, uma vontade inicial que tem de partir necessariamente do próprio ouvinte. Mas, neste caso, penso que é necessário um pouco mais do que isso, é preciso um esforço adicional de despojo de alguns complexos contra a estética do período.
Por alguma razão que desconheço parece existir uma certa arrogância intelectual relacionada com uma presunção de superioridade do ideal romântico, sobretudo junto do auditório mais jovem (neste caso não as criancinhas), que menospreza e rotula de previsível ou de desprovida de sentimento a sua música ... nada mais falso!
É preciso aprender a saber não ter medo de sorrir junto com Mozart (não, isso não nos torna menores!), é preciso saber deixar entrar os raios de luz que emanam das melodias para sopranos para quem tão magnificamente compôs (
♪), apreciar a beleza dos jogos entre os instrumentos (
♪) ou a sensação de total plenitude atingida mesmo com conjuntos instrumentais reduzidos (
♪). Em Mozart tudo se harmoniza, tudo parece inspiração, realização. É verdade que não existe a auto-comiseração (por vezes lamechas?) do romantismo mas, não é isso que torna o piano de Chopin, Schumann, Schubert ou mesmo Liszt mais íntimo, mais humano.