Friday, September 29, 2006

A propósito de uma conversa recente...


Deitem fora todas as outras, esta é a melhor interpretação da Missa em si menor.

(Excertos no fonógrafo digital)

Missa em Si menor
Collegium Vocale Herreweghe

Kyrie eleison
Christe eleison
Kyrie eleison
Et incarnatus est
Agnus Dei

Thursday, September 28, 2006

Música e Literatura - Post II

A possibilidade do efeito profundo e amplo de um produto espiritual significativo reside na íntima afinidade, na harmonia que une o destino pessoal do seu criador aos destinos indiferenciados dos seus contemporâneos. O público não sabe por que razão concede a fama a uma obra de arte. Desconhecedor do ofício, julga vislumbrar inúmeros méritos com que justifica outras tantas opiniões; mas a causa real da sua preferência é um impoderável: a simpatia.

em A Morte em Veneza, Thomas Mann

P.S. Um reparo: a passagem surge no contexto da criacção literária, mas sendo o seu objecto não apenas este mas antes toda a criação artística resolvi incluí-la nesta secção.

Wednesday, September 27, 2006

Concerto de Ontem - Órgão, Mozart e Haydn

Ontem fiz a minha estreia nos concertos deste ano do IX Festival Internacional de Órgão de Lisboa. Tratava-se de um programa pouco habitual neste tipo de concertos e foi sobretudo a curiosidade de conhecer o que iria ser tocado o que me levou até à Basílica da Estrela.
Ontem ouviu-se Haydn e Mozart, os dois baluartes do período clássico, uma época que assistiu ao declínio na produçao de música para este instrumento. Talvez por isso não tenha gostado muito. Ao ser progressivamente desconsiderado, fico com a sensação que das poucas vezes que foi trabalhado, o órgão foi tratado como mais um entre os diversos instrumentos disponíveis (como aconteceu ontem). Assim sendo ignora-se o carácter predominantemente religioso que o constitui e perde-se a característica fundamental da sua música.
Posto isto o concerto foi uma agradável surpresa, resultado de uma boa interpretação (com um descuido ou outro, mas isso faz parte...) de jovens instrumentistas muito bem conjugada com a acústica da basílica.

P.S. Não deveria revelar isto mas aqui fica: existem duas formas de arranjar um bom lugar nestes concertos, chegar muito cedo (o que pode ser chato), ou ficar nas imediações dos lugares reservados. Quando faltam poucos minutos para o início do concerto estes perdem essa qualidade e quase sempre falta alguém...

Monday, September 25, 2006

Brendel plays Bach


Bach escreveu para cravo, órgão, clavicórdio, claviórgão mas não para piano. Não porque estes ainda não existissem , estavam aliás a dar já os seus primeiros passos... Bach terá mesmo sido confrontado com um destes instrumentos, tendo-o rejeitado e inclusivamente previsto o seu falhanço. Aqui, falhou Bach. Desta forma sustenta-se a posição mais purista que dispensa e critica a interpretação ao piano da sua música. Eu gosto.

No início da sua carreira Brendel tocou um repertório bastante variado que com o passar dos anos foi-se reduzindo a três compositores essenciais: Beethoven, Schubert e mais recentemente, Mozart. Este CD reveste-se assim de particular curiosidade, dada a raridade com que se pode ouvir Brendel tocar Bach. E que bem que toca! Trata-se de um a leitura completamente descomplexada, que explora muito bem as opções que o piano disponibilza e que estão ausentes do cravo. Uma interpretação verdadeiramente pianística que, sendo arrojada, é ao mesmo tempo testemunho da intemporalidade de Bach.



Chorale Prelude 'Ich ruf' zu dir, Herr Jesu Christ,' BWV 639

Prelude (Fantasia) in a, BWV 922

Chromatic Fantasia and Fugue in d, BWV 903

Chorale Prelude 'Nun komm' der Heiden Heiland,' BWV 659

Fantasia and Fugue in a, BWV 904

Friday, September 22, 2006

Caixinha


Se ao passearem pela rua encontrarem esta caixinha não a deixem fugir,corram atrás dela, agarrem-na com todas as vossas forças e levem-na para casa!!

Thursday, September 21, 2006

Para quem anda distraído...

Começa hoje o IX Festival Internacional de Órgão de Lisboa. Programa aqui.

Shostakovich


Há quem afirme que a verdadeira música é a de câmara. Por detrás desta afirmação está, habitualmente, a ideia de que na ausência do constrangimento da aparição para o grande público, o compositor encontra-se mais livre para expressar as suas ideias musicais. Tendo a concordar com isto, mas não me parece que seja sempre esse o caso. Basta recordar que durante o período clássico muitas das obras escritas para conjuntos instrumentais reduzidos ou instrumentos solo destinavam-se à prática de músicos amadores.
A censura de Staline torna, contudo, o caso de Shostakovich bastante mais óbvio. Fazendo com que não só a sua música de câmara, mas também todo o seu período de criação após a morte do ditador sejam particularmente relevantes.
De entre a música de câmara destaco os seus quartetos, todos, sem excepção. Ao ouvi-los parece por vezes que estamos dentro de um filme de terror, mas talvez fosse esta a sensação que o compositor experimentava...

No fonógrafo digital alguns excertos do quarteto número 8.

Quartet No. 8 In C Minor Op. 110

1. Largo - attacca


2. Allegro molto - attacca

3. Allegretto - attacca

4. Largo - attacca

5. Largo

Wednesday, September 20, 2006

A Proposta do Dia

de hoje é um daqueles CD's que não podem não estar na estante.

Livro I

- Prelude & Fugue III BWV 848 In C Sharp Major
- Prelude & Fugue VIII BWV 853 In E Flat Minor
- Prelude & Fugue XII BWV 857 In F Minor

Livro II

- Prelude & Fugue I BWV 870 In C Major
- Prelude & Fugue XXIV BWV 893 In B Minor

Monday, September 18, 2006

Sugestão

não de escuta mas de leitura. O texto é de Rodrigo Saraiva, fica um excerto e a ligação para o resto.

CONSIDERAÇÕES EM TORNO DO BACH DE HELMUT WALCHA

Ao mesmo tempo que escrevo isto, ouço as Partitas do Walcha. Não há qualquer comparação com as versões recentes. Há uma tensão, uma intensidade, uma concentração, que não se encontram em nenhuma das versões mais modernas.

Isto significa que vivemos tempos estupidamente fáceis, em que nos embalamos na tranquilidade de saber que «tudo vai correr bem». Os pequenos dramas da nossa vida não são verdadeiramente graves. Quando o Walcha gravou as Partitas, como no sec. XIV ou nos sécs. XVI e XVII, as questões eram todas de vida ou de morte. A MORTE estava presente em todos os momentos. Ou porque uma guerra estúpida e sem sentido tinha causado a morte de milhões de pessoas e a destruição de grande parte da Alemanha; ou, em épocas anteriores, porque a doença e a morte que se lhe seguia estavam sempre presentes, as pessoas tinham uma sensação de, ao mesmo tempo, seriedade e desespero. Agora, nos tempos modernos, do post-guerra fria, sentimo-nos todos confortáveis e sem quaisquer problemas. Tudo é simples. Basta tentar com força que se consegue. E, se não se conseguir, alguma coisa há-de surgir. Os valores tornaram-se
completamente hedónicos e deixou de se ter o pudor da facilidade e do prazer. Trata-se de uma modificação enorme nas nossas vidas.
(texto integral)

Friday, September 15, 2006

Capas pop

Qualquer coleccionador de música sabe que na compra do CD a capa desempenha também um papel. Cientes disto os produtores discográficos de música clássica souberam não ficar parados no tempo, fazendo com que estas estejam cada vez mais elaboradas.

Uma das formas adoptada, quanto a mim errada, consiste na promoção dos instrumentistas como se estes fossem músicos pop. Infelizmente há quem compre música clássica desta forma, mas nesse caso todo o seu sentido fica desvirtuado.
P.S. A Anne-Sophie Mutter que me desculpe mas ela é mesmo o caso mais flagrante

Thursday, September 14, 2006

Um pouco de jazz?


Egberto Gismonti faz parte das minhas escassas incursões pelo mundo do Jazz mas é, ainda assim, muito provavelmente o músico vivo que mais aprecio. É certo que toda esta simpatia deve-se em grande parte ao facto de sermos compatriotas e pelo facto de a sua música ser profundamente brasileira, confesso... mas ainda assim permitam-me: o Homem é genial!
Como muitos dos actuais músicos da cena Jazz, Gismonti possui também uma formação erudita que lhe permite escrever música. Dessa capacidade resultou por exemplo, Meeting Point. Um CD com algumas composições a "roçar" o Stravinksy, mas sempre com a presença, por vezes como actor principal, noutras apenas em pano de fundo, da música tradicional brasileira.
Umas amostras:


- Strawa No Sertao-Zabumba


- Frevo

Tuesday, September 12, 2006

Haydn - As sete últimas palavras de cristo


Haydn sobreviveu a Mozart. Afinal, nenhum outro compositor resistiu à sua hegemonia no período clássico. Isto por si só deverá dizer alguma coisa.
Na celebração dos 250 anos do nascimento do compositor de Salzburgo convém não esquecer Haydn e deixo aqui uma proposta excelente (pelo menos eu entendo-a assim...).
Ainda não é, mas será com certeza uma daquelas gravações que se tornam uma referência: coro a muito bom nível (já com provas dadas), acompanhado por um dos melhores agrupamentos de interpretação histórica. Há quem não goste de Haydn, Glenn Gould dizia que mais vale uma das suas sonatas do que todas as de Mozart, não me junto ao último mas certamente também não faço parte do primeiro grupo.
Fica a proposta para quem quiser por si próprio tirar as suas conclusões.








As Sete Últimas Palavras de Cristo na Cruz - Frau, hier siehe deinen Sohn e



Accentus - Akademie fur Alte Musik - Equilbey



Saturday, September 09, 2006

Concerto de inauguração do órgão da igreja da Nossa Senhora do Cabo


Igreja repleta, não dos habituais ouvintes de música para órgão mas dos próprios paroquianos, afinal, era deles a festa . Ainda que logo no final do primeiro prelúdio já se notasse uma certa inquietação/aborrecimento/conversas dos presentes, a verdade é que existiu um respeito pela música apresentada que em nada fica atrás de alguns concertos que já tive oportunidade de ouvir na Gulbenkian, isto para não falar claro, na festa da música.
Do programa constavam Bach, Schumann, Mendelssohn e Jean Bouvard (avô do organista).
Quanto à música de Bach, nada a acrescentar, ninguém compôs para este intrumento como o organista de Leipzig. A descoberta veio sobretudo da peça de Mendelssohn. Ainda que sendo a transcrição de uma peça para piano trata-se de uma obra assinalável, com o evidente cunho da inspiração do mestre do barroco. Saio deste concerto com a ideia reforçada de que a fé é o elemento essencial na criacção deste tipo de composições.

Proposta do dia - em rescaldo do concerto de ontem...

...fica a curiosidade de aprofundar o conhecimento da música para órgão de Mendelssohn

Prelude - Fugue No 2 InG, Op 37 No 2: Fugue

Thursday, September 07, 2006

Proposta do Dia - Arvos Part


Magnificat



Bogoroditse Djevo


Acerca da proposta do dia

Para quem lê este blog com alguma regularidade não será difícil perceber que o seu autor é, por assim dizer, um conservador que olha com muita desconfiança para o que é novo, sobretudo no campo musical.
Assim sendo ficará naturalmente espantado com a escolha para proposta do dia, Arvos Part, um compositor contemporâneo.

Pois é, estou absolutamente em delírio com esta nova descoberta. Ao ouvir a proposta do dia terá certamente a oportunidade de perceber a razão deste sentimento, o profundo conservadorismo da obra de Arvos Part (pelo menos no seu segundo período de criacção).

Apetece-me tecer algumas considerações sobre este conservadorismo mas, hoje infelizmente não tenho tempo. Fica a promessa de o fazer em breve.

A proposta do dia trata-se de um tributo, julgo que será uma das melhores formas de iniciar a audição da obra do compositor estoniano. Isto é, de resto, o que estou a fazer.

Wednesday, September 06, 2006

Proposta do Dia





First Penitential Psalm - Colegium Vocale, Herreweghe

Esta Sexta...


às 21h30, concerto inaugural do Órgão de tubos da Igreja de Nossa Senhora do Cabo, Linda-a-Velha. (Organeiro: Dinarte Machado)

Obras de Johann Sebastian Bach, Robert Schumann, Felix Mendelssohn, Jean Bouvard

Organista - Michel Bouvard

Tuesday, September 05, 2006

Proposta do Dia

Bach

'Aria variata alla maniera italiana' In A Minor, BWV 989 - Glenn Gould

Monday, September 04, 2006

Protesto desestruturado

Portugal é um país com um claro défice de instrução musical, ainda assim nada (ou muito pouco) é feito. Nem mesmo as instituições públicas que deveriam promover a chamada música clássica parecem saber desempenhar o seu papel. Perpertua-se uma comunidade estática de ouvintes privilegiados, estranhamente desinteressados e subsidiados!?!? São sempre os mesmos nos concertos, vivemos num mundo demasiado pequeno que não parece querer se alargar.
É verdade que a divulgação não é fácil e mesmo a discussão sobre a forma mais apropriada de a fazer é ela, por si mesma, bastante complicada. A música clássica não pode nem deve competir com a pop, ou a rock, o seu lugar é seguramente outro. O problema é que ela é, de facto, inacessível a uma parte muito significativa da população.
A solução passará pela educação, no entanto a música está fora dos planos curriculares. Tenho muitas dúvidas de que essa solução passe pela simples inclusão de um programa músical no currículo escolar. Quando recordo as minhas aulas de português no ensino secundário e não encontro referências a nomes como os de Hermann Hesse, William Golding, Dostoiévsky e Dickens não posso deixar de as colocar. O principal problema é que quem quiser que os seus filhos aprendam música em Portugal, ou vive em Lisboa e consegue ir para o Conservatório Nacional, ou paga quantias absolutamente incomportáveis para o comum dos mortais. Infelizmente a música é ainda hoje vista como um luxo e assim é consumida, como um qualquer outro bem de ostentação de riqueza ou status. Enfim...

Música e Cinema: O Silêncio dos Inocentes

Para quem já viu isto há muito tempo talvez seja difícil recordar. Naquela que será muito provavelmente a cena mais brutal do filme, a do espancamento aos guardas na cela, ouve-se a ária das Variações Goldberg de Bach.
Ainda que possa ser o mais imediato, o papel de contraste com a própria violência do espancamento não é o único que cabe à música nesta cena. Ao abri-la com a ária e ao encerrá-la com a sétima variação, o realizador reafirma a dualidade essencial da personagem de Anthony Hopkins: o intelecto que contrasta e guia o seu instinto mais primitivo .

Julgo que a interpretação que se ouve é a gravação de 1955 de Glenn Goud. É a que fica no fonógrafo digital...
P.S.Obrigado Farinha pelo toque sobre a 7ª variação

Friday, September 01, 2006

De um Mozart Desconhecido

- Música Maçónica- Rezitativ - Dir, Sonne des Weltalls


- Música Maçónica -Duett - Die Lichter, die zu Tausenden