Thursday, November 30, 2006
O Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley
tem andado na moda graças às novas descobertas no campo da genética e das discussões sobre o referendo do aborto. Neste romance o autor constrói-nos um universo no qual os seres humanos são fabricados, condicionados ainda antes do seu nascimento. Um processo que é perpetuado até à sua morte e que resulta na anulação da individualidade, na perda do valor inviolável da vida humana. Uma vez colocada a possibilidade da sua fabricação, carece de fundamento o direito à vida de cada homem. Este não mais é uma realização única, irrepetível e por isso mesmo absolutamente necessária, divina. Como qualquer outro produto industrial torna-se sim, dispensável, substituível.
Na procura pela manutenção desta nova sociedade os seus admnistradores, conscientes do perigo da descoberta do individual, eliminam da vida quotidiana dos seus membros os momentos de silêncio, de reflexão, que sugerem transcendência. O seu urgente apelo é substituído pelo recurso à droga. Vive-se sem necessidade de Absoluto.
É estranho verificar até que ponto vivemos algo parecido. Temos medo do silêncio. Estar-se sozinho é estranho, é sinónimo de exclusão. Acabada a vida produtiva, terminado o turno diário de 8 horas de trabalho, é nos oferecida constante alienação, não só no futebol, nas telenovelas, na televisão ou no invasivo bombardeamento de publicidade a que estamos sujeitos. Toda a arte é também ela paraíso dos sentidos, quer se trate de cinema, música, teatro ou literatura. Somos preenchidos por pequenos enredos vazios de conteúdo, porventura complicados na forma, mas que nada têm a dizer. Procura-se passar um bom bocado, esquecer o trabalho, entreter-se. A descoberta do “eu” não é sequer superfula, é antes prejudicial... “não penses muito nisso”, que conselho tão acertado!! Tal como no admirável mundo novo substitui-se o apelo da transcendência pelo dos sentidos, pela satisfação imediata e curriqueira, que não nos preenche, é certo, mas que por isso mesmo tem de estar inimterruptamente a ser satisfeita. Vivemos numa tempo sem necessidade do Absoluto. Num mundo dominado pela crença na ciência vivemos como pequenos átomos, na esperança de que os nossos choques não criem muitas ondas. É-nos negado acesso à verdadeira procura, sim, porque não existe verdadeira liberdade nesta escolha.
Num dos poucos redutos contra-corrente encontra-se a música clássica. Apreciá-la torna-se assim uma experiência verdadeiramente transformadora, comparável mesmo só à do amor ou da fé.
Tuesday, November 28, 2006
Dialógo Ecuménico: Sr Daniel, desculpa lá e tal...
...mas, quinteto no meu dicionário tem esta definição. Um pouco diferente da tua...
Mozart KV581 - Clarinette quintett - 2º andamento
Mozart KV581 - Clarinette quintett - 4º andamento
Mozart KV581 - Clarinette quintett - 2º andamento
Mozart KV581 - Clarinette quintett - 4º andamento
Monday, November 27, 2006
Proposta do Dia
Bach por Sviatoslav Ricther. Por vezes aparecem estes pequenos diamantes na Fnac. Bach e Richter são uma mistura explosiva. Fui um dos felizardos numa das minhas últimas visitas a esta loja, aqui fica a partilha.
Suite nº3 no Fonógrafo Digital
Thursday, November 23, 2006
Trio Beaux Arts - Shostakovich (continuação)
Uma interpretação muito boa. A alma do trio continua a vir do seu pianista, é por demais evidente. Um senhor que toca como poucos, absolutamente extraordinário. Um exímio controlo das frases, pedal e sentido da relação com os demais elemetos do agrupamento.
Porém , mais do que a interpretação, a surpresa para mim veio mesmo do trio de Shostakovich. Sempre senti um certo fascínio por este compositor, apesar, ou melhor, principalmente, pelo seu tom marcadamente negro. Em Shostakovich nunca encontrei uma réstia de esperança. A sua música parece retirada de uma drama psicológico de Dostoievski, a alegria quando surge é sarcástica, irónica e desemboca numa torrente de violência. Shostakovich é sofrimento e violência, nada resta para além disto... Encontramos estes elementos também em Schubert, é certo, mas entre lágrimas resta espaço para o amor, pela sua procura ou por um final grito de esperança. Assim foi esta terça na Gulbenkian.
Wednesday, November 22, 2006
Trio Beaux Arts - Shostakovich
Até agora, o melhor concerto da temporada! Entre os que tive oportunidade de ver, claro está...
Shostakovich anda em festa, não que ele fosse um tipo muito dado à animação(piada forçada, má mesmo, os tempos não estão dando para mais...) mas bem merece esta homenagem, e o trio ontem apresentado na Gulbenkian está aí para testemunhar isso mesmo. Estou sem tempo mas fica prometido, para breve, um post mais detelhado sobre o concerto de ontem.
Para já fica o trio no fonógrafo.
- Shostakovich
Trio com Piano No.2 em mi Menor, Op.67
Andante - Moderato - Poco piu mosso
Allegro con brio
Largo
Saturday, November 18, 2006
Proposta do Dia
Sempre que oiço isto apetece-me dizer que Schubert é o maior compositor de todos os tempos. Depois passa-me, é verdade...
Mas se algumas obras deixam-nos a sensação de estarmos perante o melhor que alguma vez já se escreveu, esta é sem dúvida uma delas. Nas mãos do seu maior intérprete, o segundo andamento da Sonata D.959 de Schubert.
Wednesday, November 15, 2006
Quarteto Minguet
Actuaram ontem na Gulbenkian para uma plateia muito vazia. Muito bom concerto, foram a prova de que não é preciso ser uma mega-estrela para deliciar o público.
Monday, November 13, 2006
Pequenos gestos...
Abrir um novo livro. Folheá-lo. Num gesto que lhe confere vida, que o torna parte de nós, marcar a sua primeira página, vincar a sua capa. De entre séculos, escolher a música que acompanhará a sua leitura.
O livro: As Ondas de Virgina Wolf. A música: Kreisleriana e Kinderszenen, de Robert Schumann. Um livro difícil, duro, construído de imagens solitárias que comunicam entre si. Imagens esparsas, soltas e ao mesmo tempo muito belas, numa constante intermitência entre o real e o sonho. Um pouco como sinto a música para piano de Schumann, que nunca consegui encaixar. Preciso de compreender o que oiço, dar-lhe sentido.
Com As Ondas encontrei esse caminho, que não o é verdadeiramente, mas que constitui antes uma beleza una de breves fragmentos. Como alguém que visita uma exposição e altera o registo do seu sentimento com o andar de sala para sala, de quadro para quadro. Como os nossos dias, construídos de emoções contrastantes.
O livro: As Ondas de Virgina Wolf. A música: Kreisleriana e Kinderszenen, de Robert Schumann. Um livro difícil, duro, construído de imagens solitárias que comunicam entre si. Imagens esparsas, soltas e ao mesmo tempo muito belas, numa constante intermitência entre o real e o sonho. Um pouco como sinto a música para piano de Schumann, que nunca consegui encaixar. Preciso de compreender o que oiço, dar-lhe sentido.
Com As Ondas encontrei esse caminho, que não o é verdadeiramente, mas que constitui antes uma beleza una de breves fragmentos. Como alguém que visita uma exposição e altera o registo do seu sentimento com o andar de sala para sala, de quadro para quadro. Como os nossos dias, construídos de emoções contrastantes.
Thursday, November 09, 2006
Wednesday, November 08, 2006
Música e Bolos de Chocolate
Dadas algumas conversas que tenho tido com pessoas mais próximas acerca do conteúdo do fonógrafo julgo que devo deixar aqui um esclarecimento.
Nada tenho contra quanto à possibilidade de a música ser desfrutada enquanto mero entretenimento, que se goze o puro prazer de ouvir um “bom som”. Penso no entanto que ao encarar a música desta forma não se pode aspirar a que se obtenha dela nada de especial, ouvir música passa a ser apenas mais uma das infinitas possibilidades que temos à disposição para passar o tempo. Entre música e qualquer outro tipo de entretenimento não haverá qualquer diferença objectiva: entre ouvir uma paixão de Bach ou assistir ao SIC 10 horas não existirão diferenças a não ser aquela que é desperta pelo gosto pessoal de cada um. Entre a música romântica do Toy e os improvisos de Schubert não reside qualquer fosso de genialidade pois, dita a verdade, isso até nem importa, o gosto pessoal tudo determina. Se os horrorosos berros do Toy me comoverem mais do que o piano de Schubert então aqueles serão melhores para mim, toda a discussão acaba neste ponto. Pode-se gostar de música, sim, mas tal como se gosta de um bolo de chocolate. E não é assim que ela é consumida?
Saturday, November 04, 2006
Post Intimista
A cidade embrutece-nos nesta correria diária, sem propósito, ainda que bem definida. É difícil encontrar vida ou uma ordenação que nos dê sentido nestes meios urbanos. A voz da criação parece mais fraca aqui, onde reinam os Mundos e os Homens de plástico.
Ultimamente só a encontro através da música, especialmente através de Mozart.
Ultimamente só a encontro através da música, especialmente através de Mozart.
Friday, November 03, 2006
Thursday, November 02, 2006
Último Domingo na Gulbenkian - 10:30
Ensaio geral do concerto das 19:00 do mesmo dia. Cabeça de cartaz: Daniel Barenboim. É sem dúvida um pianista exímio, foi realmente um privilégio poder ouví-lo ao vivo. Mas o programa não encheu as medidas, a conlusão que se retira é, sem dúvida, que mais importante que o intérprete é o programa da noite...