Monday, March 26, 2007
Thursday, March 22, 2007
Romantismo, Bruckner, Mahler e a redenção.
Com o decorrer dos anos da adolescência somos inevitavelmente confrontados com a armagurante descoberta do eu. É nesta altura das nossas vidas que nos sentimos, pela primeira vez, verdadeiramente sós. É nesta fase que se descobrem universos para além do constituído pela candura do lar. Assume-se o nome que se carrega, compreende-se o mistério da individualidade. É a partir daqui que passsamos a entender-nos a nós próprios como uma entidade distinta de todo o resto, do grupo a que pertencemos ou no qual fomos criados. É esta a descoberta que nos permite passar da infância para a idade adulta: a consciência do universo que constitui a individualidade, a consciência do mistério do eu.
Quase toda a geração do século XIX compõe música música sobre esta revelação. Quase toda a música deste século fala-nos da relação desse universo pessoal com o mundo exterior. Das sensações que este provoca sobre o indivíduo. À excepção da composta por Mendelsohn, quase toda a obra da geração do século XIX é profundamente pessoal, virada para dentro, em conformidade com o ideal do artista romântico. Por isso fala-se muito de amor, dos sentimentos que este desperta no compositor. Talvez por isso, pela intimidade que sugestiona, a música de câmara seja marca tão evidente deste período. Pensemos nos trios de Schubert, na música para piano de Chopin, Schumann.
Quase toda a geração do século XIX compõe música música sobre esta revelação. Quase toda a música deste século fala-nos da relação desse universo pessoal com o mundo exterior. Das sensações que este provoca sobre o indivíduo. À excepção da composta por Mendelsohn, quase toda a obra da geração do século XIX é profundamente pessoal, virada para dentro, em conformidade com o ideal do artista romântico. Por isso fala-se muito de amor, dos sentimentos que este desperta no compositor. Talvez por isso, pela intimidade que sugestiona, a música de câmara seja marca tão evidente deste período. Pensemos nos trios de Schubert, na música para piano de Chopin, Schumann.
Também a música de Mahler, ou mesmo a de Bruckner, resulta de um profundo sofrimento e é, nessa medida, marcadamente pessoal. A abordagem do sofrimento dá-se, porém, a um nível superior ao do trabalhado pelos compositores de 1811. Esta trata agora da adequação, ou não, dos dois universos em confronto. Na obra destes compositores do romantismo tardio, questiona-se a relação da própria existência do compositor com um mundo que se apresenta estranho, indiferente ou mesmo adverso. Talvez seja deste confronto que resulte a orquestração desmedida das suas obras, talvez esta nasça do choque destas duas realidades. Trocado por miúdos podemos por as coisas mais ou menos nestes termos: Mahler já não mais pergunta se vale a pena a vida sem o amor, mas se o próprio amor vale a pena.
Pelo carácter metafísico que as suas composições carregam, ouvir Mahler e Bruckner torna-se assim bastante mais exigente. Porém, apenas esta obra é capaz de despertar no ouvinte a experiência de uma real transcendência, de fazê-lo experimentar o abismo que constitui a vida. Apenas esta música é capaz da derradeira redenção.
Monday, March 19, 2007
Proposta do Dia
Symphony No.8 in C Minor, Op.65: I. Adagio
Symphony No.8 in C Minor, Op.65: II. Allegretto
Concertgebouw Orchestra, Haitink
Thursday, March 15, 2007
Ficar velhinho é
ouvir a sonata K.310 de Mozart e perguntar: "mas como é que esta juventude prefere o hip-hop?". Juro que não compreendo.
Tuesday, March 13, 2007
Proposta do Dia
Erlkonig de Franz Schubert (texto de Goethe), transposto para orquestra por Hector Berlioz. Seguir o texto não é essencial, é obrigatório. Tanto quanto conheço, o momento mais negro da história da música.
Monday, March 12, 2007
Encontros de 3º Grau
Entrar numa oficina para arranjar o espelho retrovisor e ouvir o Laudate Dominum de Mozart.
Sunday, March 11, 2007
As Cartas da Maya
Quando daqui por uns anos olharmos para o século XX, serão cinco os compositores essenciais: Boulez, Schoenberg, Shostakovich, Messian e Arvo Part.
Boulez e Schoenberg serão recordados como os expoentes de uma das maiores marcas do nosso tempo: o domínio da técnica.
Shostakovich representará o horror das ditaduras, das duas grandes guerras, das valas comuns, o vazio de esperança na Humanidade.
Part e Messian resistirão como a prova mais evidente de que, por maiores que sejam as atrocidades, é impossível retirar Deus do coração dos Homens. O quarteto para o fim dos tempos será o expoente máximo desta certeza.
P.S. Onde colocar Stravisnky? Talvez no primeiro grupo? No segundo? Sugestões?
Thursday, March 08, 2007
Wednesday, March 07, 2007
Insultos Mozartianos
Anda meio mundo atrás de Deuses, de beleza, de um sentido para tanto esforço, para tanta injustiça. Compositores agigantam a sua música numa desesperada complexidade orquestral, como quem procura algo maior do que si próprio; escreve-se, sofre-se, ama-se, mata-se, morre-se. Tudo isto e basta afinal uma breve melodia, uma simples sonata para piano; nada de muito rebuscado, sem fogos de artifício, singelo, perfeito. E tudo surge evidente, como se na simplicidade dessa música coubesse toda a Humanidade. Ouve-se, e no final resta agradecer a esta insultuosa simplicidade por mais uma vez ter equilibrado a balança das nossas vidas.
Tuesday, March 06, 2007
Os símbolos não podem cair - Conservatórios Nacionais de Música em Perigo
"Começou tudo num "estudo mal elaborado por três professores da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade Clássica de Lisboa, que avaliaram o sucesso do conservatório pelo número de diplomas dados". Wagner Dinis, presidente do conselho executivo da Escola de Música do Conservatório Nacional, em Lisboa, explica melhor: "Nas outras escolas, para saber se há êxito conta-se o número de diplomas do ensino secundário. Como para aceder ao ensino superior, os alunos desta escola não precisam de diploma, precisam de passar numa audição, a maior parte não termina o seu diploma, deixa disciplinas para trás." " (ler mais)
Monday, March 05, 2007
Descoberta de início de semana

É claro que nisto da música clássica as descobertas são sempre pessoais. Não se ambicione mais do que isso. Hoje encontrei Ingrid Haebler, mais um nome para acrescentar à lista dos grandes mozartianos!
Excerto no fonógrafo digital.
Twelve Variations In C, KV 265-300e
Ten Variations In G, KV 455
Ingrid Haebler , Piano
Sunday, March 04, 2007
Friday, March 02, 2007
Thursday, March 01, 2007
Sopro Divino

Algumas obras deixam-nos a sensação de uma real experiência do divino, como se estivéssemos perante algo que não pode ser resultado da concepção isolada do Homem. Duas explicações possíveis: ou se tratam de verdadeiras intervenções dos Deuses ou os humanos que as escreveram trocaram dois dedos de uma conversa muito privilegiada. Esta experiência, a da transcendência, consiste na diferença essencial entre a música clássica e as restantes, entre as quais se inclui também o jazz.
Entre os Homens que usufruíram de tão cobiçada conversa encontram-se seguramente Bach, Mozart e Mahler. É certo que pela própria característica da sua música, do tempo em que viveu e dos textos que musicou, Bach é um candidato natural para este estatuto. O mesmo porém não se aplica à música de Mozart, cujas composições raramente assumem um carácter religioso, mas que ainda assim remetem-nos para o “significado do mundo” de que fala Hermann Hesse (ver post abaixo), para a sua beleza última, para o derradeiro estado de confiança. Já em Mahler, a presença mística é tão evidente que é quase absurda qualquer tentativa da sua demonstração. Mesmo o Mahler mais negro, mais próximo da morte (Sinfonia nº9, A Canção da Terra...), fala-nos não da decadência da carne, mas sugere antes uma certa intimidade com Deus (ainda que trágica), uma experimentação viva do sobrenatural.